terça-feira, 30 de julho de 2024

Organização do Cariri realiza ações de combate à fome com população LGBTQIAPN+


Em 2023, o Brasil foi, pelo 14º ano consecutivo, o país que mais matou pessoas trans e travestis no mundo, tendo registrado 155 mortes - 145 sendo casos de assassinatos e 10 em consequência de suicídio após sofrimento por invisibilidade ou violência. O número representou um aumento de 10,7% em relação a 2022, segundo os dados da Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra), divulgados em janeiro. Enquanto isso, as oportunidades de emprego oferecidas para profissionais transgênero caíram 57%, em 2023, em comparação com o ano anterior, como apontou o levantamento sobre empregabilidade divulgado pela plataforma TransEmpregos. No ano passado, foram oferecidas 2.549 vagas para esse público. O mesmo estudo apontou uma queda de 7% entre as pessoas trans empregadas em relação a 2022. Foram 1.040 no total, no ano passado.


Os dados evidenciam que o público LGBTQIAPN+, em especial pessoas trans, está no grupo com maior vulnerabilidade social no País. É por isso que a Associação Beneficente Madre Maria Villac (ABEMAVI), criada em 2009, na cidade de Juazeiro do Norte, dá especial atenção a esse público nas ações de superação da fome. “No nosso estatuto, já colocamos a proposta de trabalhar com a população LGBTQIAPN+ e, desde 2011, nos aproximamos com ações mais pontuais”, explica um dos coordenadores da entidade, Ronildo Oliveira.



A ABEMAVI deu início ao seu trabalho no combate à fome distribuindo um sopão, uma vez por semana, às famílias em vulnerabilidade social do bairro Aeroporto e aos catadores de materiais recicláveis que viviam no lixão de Juazeiro do Norte. “Aí a gente viu que era pouco. Eram muitas pessoas precisando e só uma vez por semana não era suficiente, mas a gente fazia o que conseguia. Tudo a partir de doação”, lembra Ronildo.


Para ampliar a ação social, a organização começou a entregar cestas básicas e, atualmente, mantém a atividade com uma média de 80 entregas mensais. Com o passar dos anos, a ABEMAVI focou suas ações em grupos com maior vulnerabilidade. Além da população LGBTQIAPN+, passou a contemplar mães solo, pessoas vivendo com HIV/Aids e idosos com a renda comprometida. “O Serviço Social faz a triagem”, ressalta o coordenador. Cada cesta tem cerca de 15 quilos de alimentos.


AMPLIAÇÃO DAS AÇÕES


A pandemia de covid-19 mudou o cenário e evidenciou a desigualdade social, ampliando o número de famílias em vulnerabilidade social na Região do Cariri. Com isso, a instituição passou a fazer a entrega de refeições, conseguindo contemplar, diariamente, 120 pessoas. “Com o fim da pandemia, pensamos que iria parar, mas as pessoas continuaram vulneráveis, desempregadas, mães com crianças em casa”, revela Ronildo.


Com doações, o trabalho seguiu, ampliando o olhar para a população em situação de rua. Hoje, são entregues 100 refeições por dia, pela manhã. Além disso, os voluntários da ABEMAVI percorrem, semanalmente, das 18h às 21h, na segunda-feira, o Centro de Juazeiro do Norte, entregando comida, roupas e kits de higiene, por exemplo. Hoje, a instituição está incluída nos programas Ceará Sem Fome e Mais Nutrição, que ajudam a estruturar melhor o trabalho, apesar de a grande maioria ser de voluntários. “Antes, a gente tinha maior dificuldade, precisava sair, literalmente, todos os dias para pedir doação e comprar os insumos. Hoje, com essa parceria, melhorou muito”, comemora.


CASA DA DIVERSIDADE


Fruto do trabalho da ABEMAVI, em parceria com a Associação Caririense de Luta contra a Aids, nasceu, em 2022, a Casa da Diversidade Cristiane Lima, ampliando a atuação para além da segurança alimentar. Lá, a população LGBTQIAPN+ recebe atendimento psicossocial e serviços de saúde e na área jurídica. Atualmente, cerca de 220 pessoas são acolhidas. “Foi um marco histórico dentro do terceiro setor”, define a assistente social Brendha Vlasack.


Além dos serviços, a Casa da Diversidade promove debates com grupos que variam de 10 a 15 pessoas. Entre as pautas, estão desde o empoderamento à saúde e bem-estar. A organização consegue, ainda, por meio de parceria, bolsas de Ensino Superior para pessoas trans e não-binárias. “O trabalho é fundamental porque o tamanho da vulnerabilidade social dessas pessoas no Cariri é muito grande”, acredita Ronildo.


Fonte: Opinião CE

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