Muito já se escreveu sobre o Padre Cícero Romão Batista, mas ainda existem lacunas na história do cearense do século 20. A relação entre o Padim e a política é um dos capítulos mais controversos da história do primeiro prefeito de Juazeiro do Norte. As principais obras sobre a vida do sacerdote afirmam que ele esteve no cargo duas vezes.
Até então, para a historiografia, Padre Cícero foi nomeado primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em 1911, aos 67 anos. “Depois, em fins de 1912, ele foi eleito e deveria ficar só até fins de 1916. Mas foi ficando por mais 10 anos. Só houve um intervalo quando a oposição ganhou com Franco Rabelo”, explica Casimiro.
O professor e pesquisador Renato Casimiro defende que Cícero Romão Batista foi prefeito ao equivalente a sete mandatos, e não dois: o terceiro, entre 1914 e 1916; o quarto, entre 1916 e 1920; o quinto, entre 1920 a 1923; e, pela sexta vez, de junho de 1923 a julho de 1924. O sétimo e último mandato teria sido aos 80 anos do Padre Cícero, também em 1924. “Claro que foram mandatos, mas ele era nomeado pelos presidentes do Estado. E foram se sucedendo e nomeando, reconduzido, entre 1911 e 1926”, observa o pesquisador.
A trajetória política do patriarca de Juazeiro ainda é marcada pelos cargos de vice-presidente do Ceará, em 1912, e deputado federal em 1926. “Ainda estou vasculhando para encontrar justificativas. O fato é que ele passou mais de 5.000 dias no governo, com uma única eleição. Aliás, duas. Em 1911, que foi [a nomeação] pela Assembleia, e outra pelas urnas. No primeiro caso, foi a criação do Município. Então, foi nomeado. Depois, em fins de 1912, ele foi eleito e deveria ficar só até fins de 1916. Mas foi ficando por mais 10 anos”.
Eleito deputado federal em 1926, após a morte de Floro Bartolomeu, Padre Cícero não assumiu uma cadeira na Câmara dos Deputados, no Rio de Janeiro. No ano seguinte, afastou-se da Prefeitura de Juazeiro do Norte, conforme detalha Renato Casimiro. “De tudo isto, o mais importante foi, sem dúvida, a imensa dedicação ao seu povo na edificação de sua cidade. Sem engano, algo que, ainda hoje – por estes dias, nos emociona pelo passado vivido e pela esperança do que ainda se nos reserva”, considera o pesquisador.
Padre Cícero e a política
O ingresso do Patriarca do Nordeste na política motiva visões distintas sobre ele. Críticos o acusavam de ser um “coronel de batina”, um chefe oligárquico e que ele teria se tornado menos religioso. Defensores frisaram suas boas intenções, afirmando ser ele um pacificador no cenário político caririense, então marcado por disputas e mortes entre coronéis. Um meio termo é a compreensão de que sua vida política seria inevitável, dadas as circunstâncias no Cariri do seu tempo e sua proeminência.
O historiador estadunidense Ralph Della Cava descreve o Padre Cícero como “o mais poderoso coronel da história política do Nordeste”. O antropólogo mineiro Marcelo Camurça acredita que ele pode “ter se sentido compelido a entrar na política”, para alcançar objetivos mais religiosos do que políticos. A historiadora caririense Fátima Pinho diz que ele, possivelmente, foi o “personagem mais polemizado, noticiado e debatido do sertão brasileiro da história contemporânea do Brasil”. O próprio Padre Cícero comentou estas análises em seu testamento: “Nunca desejei ser político [...] Vi-me forçado a colaborar na política”, confessou, em 1934.
Fonte: Jornal do Cariri
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