Fisioterapia ao ar livre é uma das estratégias do HRC para reabilitação de pacientes. Foto: Naiara Carneiro |
Uma das doenças que mais mata no Brasil, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) não escolhe idade. Embora seja mais comum em idosos, o AVC pode acometer inclusive crianças, em casos de malformação nas artérias e veias. Foi o caso de Rafaely Silva Dantas, 9 (foto). A menina, que mora em Acaraú, a 110 km de Sobral, levava uma vida normal até sentir fortes dores de cabeça e perder subitamente os movimentos do lado esquerdo do corpo. Rapidamente, ela foi encaminhada para a unidade de AVC do Hospital Regional Norte (HRN), em Sobral, e, após o tratamento, voltou a viver uma vida normal, sem sequelas.
Além do HRN, a Rede da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) conta com outros dois hospitais que atendem pacientes no interior do Estado: Hospital Regional do Cariri (HRC), em Juazeiro do Norte, e o Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), em Quixeramobim. Só neste ano, já foram 716 atendimentos no HRC, 959 no HRSC e 541 no HRN. Em Fortaleza, a referência é o Hospital Geral de Fortaleza (HGF), que alcançou 1189 atendimentos este ano.
Rafaely, na época da internação, em junho deste ano, com 8 anos, foi diagnosticada com um AVC hemorrágico extenso em decorrência de uma doença congênita rara, uma Malformação Arteriovenosa (MAV), que se caracteriza por uma rede complexa de artérias e veias anormais que se interligam, criando um “curto-circuito” e pressão alta. A mãe da menina, a marisqueira Maria Meire da Silva Oliveira, conta que quando a filha teve a paralisia dos movimentos, foi ao pronto-socorro, onde acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192) Ceará. “Do pronto-socorro, acionaram o Samu e demos entrada na emergência do HRN de Sobral. O Samu foi rápido e o atendimento do HRN foi ótimo”, relata.
A paciente fez uma cirurgia no HRN e hoje segue sendo acompanhada por outro hospital da Rede Sesa, o Hospital Infantil Albert Sabin (Hias). “Minha filha passou três dias com sangramento na cabeça. Ela é um milagre. Hoje está sem sequelas, anda normal, fala, brinca”, conta.
O caso de Rafaely é raro. É mais comum que os AVCs aconteçam em idosos e em pacientes com comorbidades como obesidade, diabetes e hipertensão arterial. Edmilson Eleutério de Sousa, 71, 1º sargento aposentado da polícia, acordou com uma dormência em um lado do corpo e a esposa o levou à unidade básica de saúde em Jaibaras, distrito de Sobral, onde moram. Ele foi então encaminhado ao HRN onde está sendo reabilitado. “Aqui tem muitos profissionais diferentes para a gente poder se recuperar bem”, conta.
Regionalização fortalece atendimento no tempo adequado
A regionalização do serviço de AVC é fundamental para o atendimento dos pacientes no tempo adequado, segundo o médico neurologista que coordena a Unidade de AVC do HRC, Saulo Oliveira. “Com vários centros especializados do AVC é possível abranger mais municípios que vão se beneficiar desse atendimento. Porque o que a gente reforça é que quando existe a suspeita que alguém está tendo algum sintoma que sugira um AVC, a gente deve agir de forma rápida para que esse paciente vá para um serviço especializado e para que ele possa receber o atendimento apropriado para essa condição quanto antes”, explica.
Em funcionamento desde março de 2013, a Unidade de AVC do HRC, equipamento da Sesa em Juazeiro do Norte, foi a primeira a ser implantada no interior do Ceará, sendo referência para aproximadamente 1,5 milhão de pessoas dos 45 municípios que integram a macrorregião do Cariri. Até setembro de 2024, a unidade já realizou 9.653 atendimentos a pacientes com AVC.
A janela de tempo ideal para o atendimento é de até quatro horas após o início dos sintomas de AVC. A assistência iniciada no tempo adequado diminui os riscos de sequelas, bem como possibilita o acesso às terapias de reabilitação conduzidas por equipes formadas por profissionais de diferentes especialidades, entre elas, a fisioterapia.
“Aqui no HRC, a gente utiliza recursos como eletroterapia, que é muito importante para recuperação de pacientes com paralisia ou fraqueza em um dos lados do corpo. Também utilizamos a mecanoterapia e a fisioterapia ao ar livre, aliadas ao banho de sol. Essas estratégias visam reduzir as sequelas motoras e reintegrar os pacientes à sociedade de forma mais rápida e segura”, ressalta a coordenadora do serviço de Fisioterapia do HRC, Suianne Soares.
Além do fisioterapeuta, outro profissional fundamental para a reabilitação dos pacientes com AVC é o fonoaudiólogo. O profissional atua avaliando e reabilitando a deglutição, a fala e a linguagem. “Entre os principais sintomas que o paciente pode apresentar e que são tratados pelo fonoaudiólogo são a disartria, que é a dificuldade de articulação das palavras, a afasia, condição neurológica que afeta a linguagem, e a disfagia, dificuldade de engolir”, explica a fonoaudióloga do HRN, Iadny Carolina Fonseca.
Tratamento no HRSC é reconhecido internacionalmente
No Sertão Central, o tratamento do AVC é realizado no HRSC, unidade da Rede Sesa em Quixeramobim, que começou a ofertar o serviço em julho de 2018. Desde então, até o mês de setembro deste ano, já foram atendidos quase cinco mil pacientes e mais de 500 trombólises realizadas, procedimento que elimina os riscos de sequelas.
Referência para os mais de 600 mil habitantes da região, a Unidade de AVC do HRSC possui metodologias inovadoras, como o uso de videogame na reabilitação de pacientes, e já acumula 29 premiações do ESO Angews, iniciativa internacional que mapeia, reconhece e certifica os melhores hospitais do mundo no tratamento do AVC.
Com uma linha de cuidado que atua durante e após o AVC, o HRSC tem uma equipe formada por diferentes profissionais, entre eles o terapeuta ocupacional. Jamila Gaspar, T.O do HRSC, lembra que a atuação visa garantir que o paciente retome sua autonomia, e volte a realizar atividades fundamentais, como alimentação, mobilidade e higiene.
“Com uma visão ampla do sujeito, o trabalho do terapeuta é intervir durante e após a internação, para que esse paciente desempenhe as atividades que ficaram prejudicadas, respeitando suas limitações, mas sempre com foco na independência desse paciente”, explica Jamila Gaspar.
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