Pesquisa realizada em parceria com o Museu de História Natural do Ceará Prof. Dias da Rocha (MHNCE), vinculado à Universidade Estadual do Ceará (Uece), buscou descrever as características acústicas do chiado das jiboias. O principal resultado da investigação foi a descoberta de que o som da jiboia é um ruído branco e que essas cobras produzem esse chiado com variações individuais.
O ruído branco é um som constante que contém todas as frequências misturadas de maneira uniforme, como o som de um ventilador, chuva ou televisão fora do ar; assim também é o som da cobra jiboia, que apresentou, ainda, variações entre elas, ou seja, cada cobra emite um som único, como se fosse uma voz, que cada indivíduo possui a sua.
Além da descoberta principal, a pesquisa também concluiu que as jiboias produzem de 4 a 12 chiados por minuto quando expostas a um estímulo negativo, como, por exemplo, a aproximação de um predador. Cada chiado, geralmente, tem duas partes: a mais alta e a mais suave. São ruídos brancos separados por um curto intervalo silencioso.
A pesquisa, intitulada Unveiling the acoustic repertoire of true boas: hisses resemble white noise and indicate individual identity, foi publicada no último mês de outubro, na revista Behaviour.
De acordo com o pesquisador do MHNCE/Uece e especialista em jiboias, Rodrigo Gonzalez, as pesquisas de bioacústica têm chamado a atenção dos cientistas nos últimos anos, sendo elas comumente realizadas para grupos de animais que, notadamente, utilizam o som como forma de comunicação, como anfíbios e aves. No entanto, poucos répteis emitem sinais sonoros, entre eles, as jiboias.
“As jiboias utilizam o som para intimidar os predadores e evitarem ser comidas. É um comportamento bastante comum, mas que ainda não havia sido descrito. Ao notar que o som emitido pela jiboia ainda não tinha sido investigado, decidimos fazê-lo para entender sua função e variações”, justifica Rodrigo.
A equipe, formada por 10 pesquisadores de diversas instituições brasileiras, gravou o som do chiado das jiboias de diversas regiões do país, sendo este, como explica o pesquisador do Museu cearense, “um dos primeiros estudos que se preocupou em descrever o som emitido por uma serpente, codificando-o de forma que se pudesse compreender suas características e variações” e abrindo precedentes para novas pesquisas com outros grupos de répteis que exibem comportamentos semelhantes.
Com autoria principal de Nathalie Citeli (UCB), o estudo contou com os pesquisadores Rodrigo Gonzalez (MHNCE/Uece), Edvaldo Silva-Jr (UCB), Anna Rodrigues (UCB), Afonso Meneses (UNB), Mariana de-Carvalho (UNB), Ednilza Maranhão (UNB), Reuber Brandão (UNB), Pedro Diniz (UNB) e Maria Laura S. Santos (UFRPE).
Rodrigo revela, ainda, que o estudo terá continuidade, dessa vez para investigar os aspectos desse som em detalhes, incluindo a anatomia da laringe da serpente.
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