Situada a quase 10 quilômetros do Centro de Brejo Santo, no Cariri cearense, uma comunidade com apenas 157 habitantes chama a atenção pela peculiaridade do nome: Compra Fiado. E para celebrar as histórias e memórias do lugar, os moradores promovem a segunda edição do Festival dos Jatobás.
A maneira que se chegou ao nome de "Compra Fiado" também é singular. Contam os mais antigos moradores que muitos vaqueiros soltavam o gado nas matas cheias de cipós e juremas. Em tempos de seca, muitos se perdiam. Para se referir ao prejuízo do animal, os vaqueiros repetiam o ditado de que tinham "comprado fiado". A partir daí, a terra que um dia também pertenceu ao Padre Cícero, passou a ser conhecida pela expressão popular.
E é nessa comunidade cheia de memórias e histórias onde vivem duas professoras que sonhavam em compartilhar essas narrativas quase esquecidas para as novas gerações. Veridiane Rosa da Silva e Sandra Sousa idealizaram o projeto "Memórias do Compra Fiado" ao perceberem que as novas gerações desconheciam grande parte da história do seu lugar de origem.
Entre os objetivos, fortalecer a relação entre as gerações e valorizar a cultura do lugar. A iniciativa começou com rodas de conversas e encontros comunitários. Para as educadoras, os momentos proporcionam uma aprendizagem mútua, tanto para adultos, como para jovens e crianças. Cada um tem algo a ensinar.
"Das conversas ao pé do ouvido nas cozinhas, mesas de refeições, calçadas, nos terreiros das casas e das conversas em redes sociais, o projeto foi tomando forma. As pessoas idosas partilham lembranças, acontecimentos políticos e sociais testemunhados por elas, causos e lendas quase esquecidos na memória que está sendo acordada pelas ações que vêm sendo desenvolvidas. Os momentos de partilhas se fortalecem e na comunidade está presente a relação entre passado e presente, identidade individual e coletiva", enfatiza Veridiane Rosa.
Histórias sob os jatobás
O espaço escolhido para os encontros é a sombra de dezesseis centenários jatobás, testemunhas de muitas histórias da vila e que também servem de passagem para mais de vinte outras comunidades. No local há escuta, partilha e tomada de decisões coletivas.
"A comunidade cuida desse espaço, que é coletivo, como uma extensão dos terreiros de suas casas. O território e o patrimônio imaterial que lá habitam pode ser considerado o coração da comunidade, para onde todo o sangue e energia vital das histórias e das memórias é bombeado e redistribuído", reforça Sandra Sousa
Uma casa de taipa também foi construída para os encontros, um espaço para partilhar experiências do cotidiano. Ao lado, uma casinha de madeira com alguns livros. Com o tempo o acervo aumentou e foi preciso criar um espaço maior. A partir daí, veio a ideia de uma biblioteca comunitária. Hoje são mais de 800 exemplares disponíveis para os moradores.
Para as idealizadoras, todo o esforço vem dando resultado. Nota-se um maior interesse dos jovens pela história do lugar e a participação de forma mais direta nas decisões que interferem diretamente na vida da comunidade.
"Cada morador sendo visto, por si e pelos outros, como detentor e produtor de cultura. As comunidades próximas à Vila Compra Fiado também estão sendo beneficiadas, pois participam ativamente das atividades propostas, despertando o interesse de construir algo semelhante. Uma troca generosa de ideias e a comunidade desenvolve e amplia as atividades em prol do resgate e da preservação cultural de seu povo", contam as professoras.
Além das interações entre os moradores, muitas pessoas são convidadas a conhecer o lugar para trazer outras atividades, como palestras e lançamento de livros. E anualmente, o projeto realiza o Festival dos Jatobás. Neste ano vai ser realizada a segunda edição. Confira a programação:
Abertura
05/12: Lançamento de livro e contação de histórias com José Mauro Brant, às 8h30
08/12: Ecopedal e Corrida - Concentração debaixo dos pés de jatobás, às 6h
13/12: Oficinas com os Alunos e Visitantes
Manhã: 8h às 11h
Tarde: 14h às 17h
Oficina com: Seu Pingo
Oficina com: Tia Tatá Mestra da Natureza
Palestra com Raquel Kariri
Pensar bem-viver na Caatinga, às 19h
Roda de conversa com os moradores da comunidade e comunidades vizinhas, às 19h40
15/12: Cavalgada com os vaqueiros da comunidade e convidados, Concentração debaixo dos pés de jatobás, às 7h
20/12: Exibição do Filme Guardar o tempo, com mediação de Sandra Sousa, às 19h
28/12: Encerramento do Festival com apresentação de Lívia Andrade e Vitim do Acordeon
Fonte: g1 CE
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