sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Madeiras fósseis de 145 milhões de anos são estudadas por pesquisadores no Cariri


A pesquisa foi liderada pela paleobotânica Dra. Domingas Maria da Conceição, pesquisadora visitante do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens (MPPCN-URCA), em colaboração com a paleobotânica e professora da URCA, Dra. Maria Edenilce Peixoto Batista. Além disso, o estudo conta com a parceria e colaboração de pesquisadores brasileiros de diferentes e importantes universidades, como: Dr. Roberto Iannuzzi e Dr. William Vieira Gobo (Universidade Federal do Rio Grande do Sul); Rodrigo Scalise Horodysk (Universidade do Vale do Rio dos Sinos); os geólogos Dr. Daniel Rodrigues do Nascimento Jr., Dr. Wellington Ferreira da Silva Filho e MSc. Mário G.F. Esperança Júnior (Universidade Federal do Ceará). A pesquisa também conta com a colaboração de paleobotânicos estrangeiros, como Marion Bamford (University of the Witwatersrand, Johannesburg, África do Sul) e Lutz Kunzmann (Abteilung Museum für Mineralogie und Geologie, Senckenberg, Alemanha).

Disponível online no dia 04 de fevereiro, a pesquisa descreve duas espécies de madeiras de coníferas, e foi publicada na Cretaceous Research, uma revista científica de alto impacto dedicada à publicação de pesquisas científicas, especialmente sobre o período Cretáceo, mas também sobre o Jurássico.


No artigo, é apresentada uma nova espécie para a ciência (Metapodocarpoxylon brasiliense) e outra já registrada no Cretáceo Inferior da Patagônia Argentina (Agathoxylon mendezii), agora reportada pela primeira vez no Brasil. Essas madeiras têm cerca de 145 milhões de anos e provêm das rochas da Formação Missão Velha, uma unidade geológica posicionada entre o Jurássico Superior e o Cretáceo Inferior. As amostras foram coletadas no Geossítio Floresta Petrificada do Cariri (Missão Velha) e em outros afloramentos do município de Brejo Santo, ambos no estado do Ceará. No entanto, cabe mencionar que muitas das amostras utilizadas na pesquisa já estavam depositadas na coleção do MPPCN há vários anos.

De acordo com a Dra. Domingas Conceição, essa pesquisa é de extrema relevância não apenas para a região da Chapada do Araripe e Geopark Araripe, mas, para o Mesozoico Brasileiro, haja vista que pesquisas nesse âmbito ainda são raras no País. Os resultados apresentados são inéditos e valiosos, revelando quais tipos de plantas viviam na região do Cariri há aproximadamente 145 milhões de anos, além de fornecerem informações importantes sobre as condições climáticas daquela época e trazer, pela primeira vez, a reconstrução da paisagem desse intervalo de tempo em forma de paleoarte para os ambientes Formação Missão Velha.

O gênero Metapodocarpoxylon, até o momento estava restrito ao norte de Gondwana, especialmente ao Norte da África, e agora está sendo registrado pela primeira vez em paleofloras brasileiras. Os pesquisadores destacam que o registro de plantas semelhantes às do Norte da África era esperado para a Bacia do Araripe, considerando que, há aproximadamente 145 milhões de anos, os continentes ainda estavam conectados. Nesse contexto paleogeográfico, as regiões correspondentes à Bacia do Araripe e ao Norte da África eram próximas. Adicionalmente, as condições paleoclimáticas entre essas áreas eram semelhantes durante esse período.

As análises dos anéis de crescimento das madeiras analisadas sugerem um paleoclima moderadamente sazonal, com estações chuvosas e secas, para os ambientes da Formação Missão Velha, interpretações que foram corroboradas por dados geológicos.

As duas espécies de plantas descritas nesta pesquisa são putativamente vinculadas a duas famílias de coníferas atuais: Podocarpaceae (Metapodocarpoxylon brasiliense) e Araucariaceae (Agathoxylon mendezii). Dessas duas famílias, atualmente, apenas uma espécie da família Podocarpaceae (Podocarpus sellowii) ocorre no estado do Ceará. No entanto, há aproximadamente 145 milhões de anos, certamente ambas as famílias de coníferas representavam os principais componentes das florestas dessa região. É fundamental destacar a importância desta pesquisa para a implementação do turismo científico na região do Cariri, especialmente no contexto do Geopark Araripe, uma vez que grande parte do material é proveniente do Geossítio Floresta Petrificada do Cariri. A partir de agora, os turistas terão a oportunidade de visualizar como era a paisagem desse geossítio há cerca de 145 milhões de anos, por meio da reconstrução da paisagem realizada nesta pesquisa.

A pesquisa foi desenvolvida no âmbito do edital (EDITAL Nº 08/2021) APOIO À PESQUISA EM PALEONTOLOGIA NA BACIA DO ARARIPE(FUNCAP/URCA), financiado pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap). Nesse contexto, a pesquisadora Dra. Domingas Maria da Conceição destaca a importância dos substanciais investimentos do governo do estado do Ceará em pesquisas paleontológicas na região do Cariri. A pesquisadora ressalta que essas madeiras fósseis são conhecidas desde 1870, e somente agora os primeiros estudos de identificação taxonômica dessas madeiras foram realizados, graças aos investimentos do governo do Ceará nas pesquisas paleontológicas da região do Cariri.

Por fim, não menos importante, os pesquisadores enfatizam que os resultados desta pesquisa evidenciam o significativo potencial da Formação Missão Velha para estudos anatômicos de madeiras fósseis, os quais ainda estão em estágio preliminar. A colaboração científica entre diversas instituições brasileiras (URCA, UFC, UNISINOS e UFRGS) e internacionais (University of the Witwatersrand – África do Sul; Senckenberg, Alemanha) destaca a relevância das parcerias científicas, tanto no âmbito nacional quanto internacional, para o avanço de investigações que geram resultados robustos e de grande importância para o campo científico.

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