As mulheres ganham em média R$ 314,53 a menos que os homens empregados no setor privado no Ceará. Os dados são do Relatório de Transparência e Igualdade Salarial, divulgado na segunda-feira (7/04) pelo Ministério do Trabalho.
No estado, a remuneração média dos homens é de R$ 3.079, 17, enquanto a das mulheres é de R$ 2.764,64 - uma diferença de 11,38%. Foram analisados 1.530 estabelecimentos e 590 mil vínculos.
Ainda de acordo com o levantamento, as mais prejudicadas são as mulheres negras, que recebem em média R$ 2.567,42.
Considerando todo o Brasil, os dados mostram que a participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou, mas a desigualdade salarial persiste. No país, as mulheres ganham 20,9% a menos que os homens nos 53.014 estabelecimentos com 100 ou mais empregados.
Foram analisados 19 milhões de vínculos, 1 milhão a mais comparado com o relatório de 2023. No primeiro estudo, a desigualdade foi de 19,4% e no segundo, 20,7%.
“A desigualdade salarial entre mulheres e homens persiste porque é necessário que haja mudanças estruturais em nossa sociedade, desde a responsabilidade das mulheres pelo trabalho do cuidado à mentalidade de cada empresa, que precisa entender que ela só irá ganhar tendo mais mulheres compondo sua força de trabalho, e com salários maiores”, disse a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, em comunicado.
Disparidade afeta autonomia financeira e autoestima
De acordo com Raquel Sales, conselheira do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), essa disparidade salarial afeta a autonomia financeira, o poder de compra e outros aspectos sociais das mulheres. Veja alguns problemas relacionados:
Desestímulo ao trabalho para as mulheres;
Existência de trabalhos precários e informalidade;
Aumento da pobreza e dependência econômica;
Menor segurança financeira, dificuldade de adquirir uma boa aposentadoria;
Aumento da violência doméstica, uma vez que ela se baseia na ideia de que os homens têm um papel superior ao das mulheres.
"A desigualdade salarial tem raízes históricas. Tudo começou com a história de que havia trabalhos diferenciados para homens e mulheres. Isso dificultou o acesso de mulheres a diferentes postos profissionais e também impactou na preferência delas por cursos com menores remunerações salariais. Além disso, as mulheres são responsáveis pela maior carga de trabalho com os afazeres domésticos e a educação dos filhos. Elas sofrem sobrecarga de trabalho, com rotinas duplas e triplas. Algumas sofrem interrupção de carreira durante a gravidez e maternidade"
-Raquel Sales, conselheira do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE)
Para a especialista, é preciso fazer uma força tarefa para mudar o quadro. Esse trabalho inclui desde conscientização nas escolas para desconstruir estereótipos de gênero até políticas públicas eficazes.
A conselheira listou os seguintes pontos:
Projetos nas escolas para desconstruir estereótipos de gênero e promover a igualdade desde a infância;
Diminuir a sobrecarga materna, como ampliar o período da licença-paternidade;
Valorizar a diversidade e promover debates sobre o assunto;
Fortalecer as políticas de transferência de renda com foco na população mais pobre que geralmente é comandada por mulheres.
Mesmo mais instruídas, mulheres são mais afetadas pela pobreza
As mulheres são maioria no estado do Ceará, de acordo com dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece). O estado tem cerca de 256 mil mulheres a mais do que homens. Ou seja: são 4,7 milhões de mulheres (51,4%) e 4,5 milhões de homens (48,6%).
Elas também são maioria no aspecto da gerência de lares. Em 2023, as mulheres lideravam 54,5% das moradias em comparação a 45,6% das residências lideradas por homens. Apesar de estarem à frente desses lares, no entanto, elas são as mais afetadas pela pobreza e insegurança alimentar.
Entenda:
A pobreza ainda é um problema que atinge milhares de lares brasileiros. O Ceará apresentou uma queda na proporção da população em extrema pobreza nos dois últimos anos, mas ainda há taxas altas.
Em 2023 no Ceará, 9,4% das pessoas viviam com renda abaixo da linha de pobreza internacional. Já a proporção de domicílios gerenciados por mulheres em situação de pobreza foi de 10,5%, maior do que por homens (7,9%). Em resumo: o estudo aponta que as mulheres enfrentam proporção maior de pobreza.
A maioria dos lares no Ceará é gerenciada por uma mulher. Em 2023, elas lideravam 54,5% das moradias, em comparação a 45,6% das residências lideradas por homens - uma diferença de 3,4 pontos percentuais.
O percentual de domicílios com maior prevalência de segurança alimentar são os domicílios chefiados por homens (70,5%). Mas a proporção de domicílios em situação de pobreza é maior em domicílios gerenciados por mulheres.
Entre os 20% mais pobres no estado, 61,4% são de domicílios liderados por mulheres (22,8 pontos percentuais a mais que os homens)
Sem programas sociais e de assistência, a desigualdade seria maior, de acordo com o estudo. O rendimento domiciliar per capita para as mulheres pobres no cenário que não receberam uma transferência de renda no Ceará seria de R$ 966,15. No cenário com transferência a renda domiciliar, esse valor seria de R$ 1.107,45.
Fonte: g1 CE
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